terça-feira, 31 de março de 2009

Do Esquecimento

Há objectos e representações da "realidade" que, cada vez mais, se perdem, esquecidos, na superfície cinzenta de si próprios.

Alter ego:

Só, habito no interior de uma grande rede nocturna. Só, para transportar-te. Vem comigo, por um momento, para fora do tempo.

sexta-feira, 27 de março de 2009

714


714. E tu entraste. Outra utente, deu-te o braço até à porta.
- Para onde vai? - pergunto.
- S. Francisco Xavier, respondes.

"Saio antes". "Não se preocupe, o motorista diz-me".

sexta-feira, 20 de março de 2009

Tu. Não sei quem és.


Tudo é ordinário. Só o que é extra ofusca. O mal - exemplo máximo - é a tendência para a cegueira. A repetição do lixo, o que todos desejam ver. Sê banal e ordinária, anónima, invisível. Para onde vais não interessa. Mas és tu que vais. Tu. A tua unidade, sem revistas cor-de-rosa.


sábado, 7 de março de 2009

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Tão longe. Tudo tão longe.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sombra



Só a sombra conduz a imaginação. Por isso não oculta, revela.
A publicidade é uma coisa um pouco parva.

Observação ociosa 1


E disse Bartleby: - Preferia de não.
Dos argumentos

Um blogue é um diário. Um diário é um registo. Um registo de imagens. De coisas observáveis. Em primeiro lugar, só o autor, o dono do diário, vê e regista. Um diário, por isso, é sempre uma "história do eu" contada pelo registo das coisas observadas a partir de ângulos de visão e de linguagem determinados pelo autor. Mesmo que seja um registo de registos, como num jogo, com maior ou menor grau de manipulação e/ou intervenção sobre os objectos visíveis.

A posse destas características, faz com que um diário não consiga escapar ao banal, ao quotidiano. Aparentemente está nos antípodas das concepções mais elaboradas. Contudo, é a partir da abordagem do efémero que, não raras vezes, surgem as ideias mais potentes. Um registo com estas características faz-se valer da fragilidade técnica das imagens, não emprega recursos técnicos como preocupação estetizante mas, ao invés, instrumentos de registo que "estão mais à mão" (1):

. O cérebro-olhar, câmara de télemovel.

. O cérebro-olhar, caneta e papel.

Também por ser assim, armazenado, guardado, arquivado, não pode, igualmente, fugir de ser um documento. Quero fazer deste documento um documento-outro, um relato da forma como as coisas se arrumam em mim, a partir da arrumação exterior. E assim conto, dando conta.

Dar conta pressupõe um modo de ser. Intuir, vaguear. Fazer do tempo, o escravo do espaço percorrido. Acorrentar a temporalidade para dela usufruir: Ócio e consciência do ócio como prova de vida, como acção. O contrário do estar-se encurralado, à força, no meio de quatro paredes, dentro de uma sala cujo ambiente cheira a cinzento burocrático, à espera que chegue a hora de "poder sair". Neste sentido a consciência do ócio tem tudo a ver com o "preferia de não" do escrivão Bartleby, personagem de Herman Melville; e com o "flâneur" de que nos fala Walter Benjamin a propósito de Charles Baudelaire e das ruas de Paris.

Claro que há modos de ser mais burgueses do que este, mas entre ser-se "burguês" e cínico, é preferível ser-se burguês. Embora estas qualidades não sejam incompatíveis, posso evitar a última mas não a primeira. Porque ser-se burguês é uma condição da civilização, mas ser-se cínico é uma condição intelectual. Daí que seja sempre melhor "o cuidado do olhar" do que, com ou sem propósito, "andar distraído".

(1) "Estar mais à mão", significa aqui, essencialmente, a possibilidade de "dispor" mais rápido. E "dispor" é, pelo uso mais rápido do instrumento técnico, simplificar quase totalmente o acto de registar.